segunda-feira, 18 de novembro de 2019

ATENÇÃO COM OS PEQUENOS GASTOS
Régis Varão/¹

No final dos anos noventa, David Bach, um especialista em finanças pessoais desenvolveu a teoria denominada Fator Café, publicada no livro O Milionário Automático. A teoria mostra que a chave para a prosperidade financeira pessoal é ficar atento aos pequenos valores gastos no dia a dia.

A maioria das pessoas acredita que o segredo da prosperidade consiste em buscar novas fontes de receita, procurar alternativas de emprego com salários mais elevados, mudar de empresa, trocar de cidade e até mesmo mudar de profissão, como se essas alternativas resolvessem os problemas da gestão financeira pessoal.

O setor financeiro nacional pratica os juros bancários mais elevados do mundo, e duas modalidades são bons exemplos. Os juros do rotativo do cartão de crédito e os cobrados pela utilização do cheque especial estão acima de 300% a.a., respectivamente, enquanto a taxa Selic está em 5% a.a.

As pessoas que mudam de trabalho, de cidade e de profissão, continuam praticando os mesmos erros na gestão de suas finanças. Grande parte dos brasileiros não tem educação financeira, logo, desconhece conceitos de economia, finanças pessoais, matemática financeira, planejamento financeiro e o que é pior, o impacto dos juros compostos nas dívidas.

Na maioria das vezes quanto mais ganhamos mais gastamos, e o aumento da despesas costuma ser proporcionalmente maior que o aumento da receita. Quando perdemos ou temos redução de receita não diminuímos as despesas com rapidez, nem na mesma proporção.

Muitas vezes as pessoas têm aumento de receita e a gastam antes de recebê-la, e para agravar a situação existem profissionais criando campanhas publicitárias de estímulo ao consumo. Um exemplo, após a entrega da declaração de imposto de renda, a rede bancária oferta crédito para antecipar a restituição do imposto, o mesmo ocorrendo com o 13º salário. Os juros cobrados nos dois casos são elevados e muitas vezes por falta de orientação a pessoa se endivida.

Com relação aos feriados nacionais, a publicidade induz o cidadão a consumir cada vez mais. São realizadas campanhas sofisticadas cuja intenção é vender para os consumidores desatentos. Muita gente cai nessas armadilhas, no estímulo visual das decorações dos shoppings, e por falta de planejamento financeiro, se endividam cada vez mais.

Os gastos do dia a dia podem atingir um volume capaz de modificar a nossa vida e custar-nos a liberdade financeira. Muitos consumidores não pensam nesses gastos, e se preocupam apenas com valores elevados, prestação da casa própria, financiamento do carro, aluguel, previdência privada, colégio das crianças etc, sem considerar que pequenas despesas impactam negativamente o orçamento.

Todos têm despesas aparentemente insignificantes, seja por hábito ou vício. Se juntarmos os pequenos gastos do dia a dia com café expresso, sobremesa, lanche da tarde, cerveja, cigarro etc, teremos um valor considerável. Cortando parte dessas despesas (cerca de 25%) daria para formar uma reserva financeira que geraria renda passiva, sem perda de qualidade de vida.

Cada indivíduo desenvolve o seu Fator Café. Estabeleça metas de gastos no dia a dia para evitar surpresas desagradáveis no fim do mês. Se a pessoa gosta de um expresso após o almoço, tudo bem, mas evite um segundo ou um terceiro. O fumante ao reduzir o consumo de cigarros melhora a saúde e o bolso. As mulheres podem economizar indo uma vez por mês ao salão ou a cada duas semanas. Controles normalmente são chatos, tomar cuidado com os pequenos valores faz grande diferença ao longo dos anos. Não vamos deixar de fazer o que gostamos, apenas devemos ter cuidado às pequenas despesas que parecem inofensivas.

Portanto, a ideia é reduzir os excessos. Ao escovar os dentes feche a torneira, ao ensaboar-se feche o chuveiro, verifique periodicamente se existem vazamentos em sua residência, estabeleça dia específico para lavar e passar roupa, não abra a geladeira muitas vezes, tudo isso pode ajudar a economizar. Hábitos saudáveis refletem positivamente no meio ambiente e no bolso. Economizar no dia a dia é importante para atingir a prosperidade financeira e ter boa saúde física e mental.

¹/ Mentor e Coach Financeiro, especializado em educação financeira, finanças pessoais, gestão e desenvolvimento de pessoas. Educador e planejador financeiro há mais de 25 anos. É palestrante de temas ligados à educação financeira, finanças pessoais, inteligência financeira, educação corporativa e liderança, além de ministrar treinamentos e workshops nessas áreas. É Master Practitioner em PNL. Economista com mestrado e doutorado em economia, é também bacharel em direito. Tem se dedicado ao estudo do dinheiro nas últimas três décadas. Foi professor universitário durante vinte e três anos e servidor do Banco Central por 36 anos. Visite o site www.ravecofinancas.com e o instagram ravregisvarao.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

PRATIQUE ATITUDES FINANCEIRAS SAUDÁVEIS
Régis Varão/¹

Os efeitos da crise econômica, o elevado nível de desemprego, a ausência de educação financeira e maus hábitos financeiros contribuem para elevar a inadimplência e o endividamento das famílias brasileiras, conforme indica a pesquisa PEIC, de out/19. O percentual de famílias endividadas com cartão de crédito, carnês de loja, crédito pessoal, financiamento de carro, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado e financiamento de casa, atinge 64,7% em out/19, ante 60,7% observado em out/18. Segundo a pesquisa, o percentual de famílias com contas em atraso e sem condições de pagá-las, atingiu 24,9% e 10,1% em out/19, respectivamente.

O endividamento decorre, na maioria das vezes de hábitos financeiros inadequados, pelo consumismo exagerado, pela falta de planejamento financeiro, pela ausência de objetivos claros, pela falta de conhecimentos de economia, contabilidade e matemática financeira, que juntos, contribuem para a má gestão das finanças pessoais.

As pesquisas mostram que endividados faltam mais ao trabalho, usam atestados médicos com frequência, vão a médicos e hospitais periodicamente, se desentendem mais com os colegas de trabalho, discutem costumeiramente com familiares, perdem facilmente a concentração, a produtividade do trabalho declina, se divorciam mais que os sem problemas financeiros, buscam muitas vezes o álcool como consolo e tendem a desenvolver ansiedade, depressão ou ambas.

Atitudes que levam à prosperidade financeira:

1. FAÇA PLANEJAMENTO FINANCEIRO:

Antes de comprar algo não planejado, é necessário avaliar se temos dinheiro suficiente no banco para liquidar a fatura integral do cartão de crédito no vencimento ou se aquela nova prestação não vai elevar o endividamento. Faça orçamento financeiro, relacione receitas e despesas, inclusive as de pequeno valor. Liste as despesas em tópicos: moradia, educação, saúde, alimentação, transporte, lazer etc. Ao fazer o orçamento você descobrirá para onde está indo seu dinheiro.

2. ECONOMIZE NO DIA A DIA:

Feito o orçamento pessoal, e obtido superávit (receita > despesa), está na hora de guardar a diferença. O superávit pode ser transformado em reserva financeira, que ajudará nos imprevistos, na educação dos filhos, na qualidade de vida presente e na aposentadoria confortável. Esse compromisso deve envolver todos os membros da família. É a oportunidade para que os filhos entendam que a liberdade financeira depende de planejamento, disciplina e muito trabalho. Bons hábitos financeiros começam na infância.

3. PLANEJE SUA APOSENTADORIA:

Muitos acreditam que o benefício pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não será suficiente para manter boa qualidade de vida na aposentadoria ou até mesmo igual qualidade de vida quando na ativa. É um período em que se gasta mais com planos de saúde, médicos, dentistas, exames, remédios etc. Se não nos planejarmos, o valor recebido mensalmente será insuficiente para pagar nossas despesas. Devemos reservar um percentual do salário todos os meses para uma reserva financeira visando a aposentadoria. A aprovação da reforma da previdência pode servir de estímulo para que as pessoas comecem a poupar.

4. NÃO PARCELE COMPRAS:

Muita gente parcela compras e faz financiamentos diversos, o que pode ser verificado pelo percentual de famílias endividadas com carnês de lojas (15,5%), financiamento de carro (9,5%), financiamento de casa (8,7%), crédito pessoal (8,2%), cheque especial (6,5%) e crédito consignado (6%), segundo a PEIC de out/19. Antes de abrir a carteira pergunte-se: Eu preciso? Tenho dinheiro? Tem que ser agora? Pequenas parcelas quando somadas se transformam em grandes valores.

5. FUJA DAS ARMADILHAS DO COMÉRCIO:

As promoções são tentadoras durante todo o ano. Temos a páscoa, dia das mães, dia das crianças, Black Friday, Natal e outros feriados em que a publicidade pega muita gente desprevenida. Para esses eventos, o comércio se prepara com antecedência, e as promoções na maioria das vezes são maquiadas para levar os incautos à comprar produtos que não precisam.

6. UTILIZE O CARTÃO DE CRÉDITO COM PARCIMÔNIA:

Um dos fatores do endividamento decorre da má utilização do cartão e do não pagamento da fatura integral. Em out/19 o endividamento com cartão de crédito chegou a 78,9%. Ao longo dos últimos 3 anos, o Banco Central mudou algumas regras para o pagamento do rotativo. É importante a obrigatoriedade das instituições financeiras negociarem as dívidas com taxas mais baixas. O cartão de crédito pode ser um aliado quando utilizado com parcimônia e disciplina. Bom exemplo são os programas de milhagens que ajudam a obter passagens aéreas e outros benefícios.

7. RENEGOCIE AS DÍVIDAS:

Troque as dívidas mais caras - cartão de crédito e cheque especial - pelas que cobram menores taxas de juros, por um consignado. Financiamento imobiliário ou de automóvel, por exemplo, pode ser negociado quanto a valores e prazos. A portabilidade é um mecanismo que vem dando grandes resultados na redução do endividamento. Você troca o agente financeiro, o que pode baratear os valores das prestações e dos financiamentos e até obter redução de prazos. Também pode ser utilizada na telefonia, com planos de saúde etc. Ao renegociar as dívidas cria-se novas e melhores condições de pagamento, mas fique atento para não aumentar o endividamento.

Pessoas que desenvolvem bons hábitos financeiros, em geral, sofrem menos estresse, menos ansiedade e menos depressão. Não compre por impulso, economize no dia a dia, inclusive com pequenas coisas, faça reserva financeira, evite pagar juros, não parcele compras e nunca despreze o poder dos pequenos valores.

Portanto, as pessoas que atingem a prosperidade financeira em geral são disciplinadas, têm objetivos claros, trabalham com metas realizáveis, fazem planejamento, não compram por impulso, usam o crédito com parcimônia, estão atentas as mudanças na economia e acompanham a rentabilidade dos principais ativos financeiros.

¹/ Mentor e Coach Financeiro, especializado em educação financeira, finanças pessoais, gestão e desenvolvimento de pessoas. Educador e planejador financeiro há mais de 25 anos. É palestrante de temas ligados à educação financeira, finanças pessoais, inteligência financeira, educação corporativa e liderança, além de ministrar treinamentos e workshops nessas áreas. É Master Practitioner em PNL. Economista com mestrado e doutorado em economia, é também bacharel em direito. Tem se dedicado ao estudo do dinheiro nas últimas três décadas. Foi professor universitário durante vinte e três anos e servidor do Banco Central por 36 anos. Visite o site www.ravecofinancas.com e o instagram ravregisvarao.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

ENDIVIDAMENTO CAI PELA PRIMEIRA VEZ EM 2019
Régis Varão/¹

O endividamento registrou em out/19 a primeira queda do ano, após nove meses consecutivos de elevação, atingindo 64,7% do total de famílias. O percentual de famílias com dívidas em atraso cresceu no período set-out/19, bem como em relação a out/18, chegando a 24,9%, o maior percentual desde abr/18. O percentual de famílias sem condições de pagar as contas em atraso subiu em ambas as bases de comparação - mensal e anual - chegando em 10,1%, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor-PEIC.

Segundo José Roberto Tadros, da CNC, “Após um período de forte crescimento do crédito, os recursos extras advindos do FGTS e PIS/Pasep, somados à sazonalidade positiva no mercado de trabalho, favoreceram a redução do endividamento”.

O percentual de famílias endividadas com cartão de crédito, carnê de loja, financiamento de carro, financiamento de casa, crédito pessoal, cheque especial, crédito consignado, cheque pré-datado e outras dívidas alcançou 64,7% em out/19, o que representa declínio em relação aos 65,1% observados em set/19. Com relação a out/18, o percentual subiu, atingindo 60,7%.

Já o percentual de famílias com dívidas em atraso subiu em out/19, na comparação com o mês anterior, passando de 24,5% para 24,9% do total. Também houve crescimento da inadimplência na comparação anual, quando registrou 23,5%. O percentual de famílias sem condições de pagar suas contas em atraso e que permanecem inadimplentes apresentou elevação na comparação mensal para 10,1% em out/19, ante 9,6% do mês anterior. O indicador chegou a 9,9% em out/18.

De acordo com Marianne Hanson, da CNC, “O aumento dos indicadores de inadimplência reflete o maior comprometimento de renda das famílias com as dívidas”.

O total de famílias endividadas apresentou tendências distintas entre as duas faixas de renda pesquisadas, na comparação mensal. Para as famílias com renda até 10 salários mínimos (<10 SM), o percentual de endividamento atingiu 65,6% em out/19, abaixo dos 66,2%, observados em set/19, e superior aos 61,7% de out/18. Para as famílias com renda >10 SM, o percentual de famílias endividadas subiu, entre setembro e out/19, de 60,5% para 61,1% . Em out/18, o percentual de famílias com dívidas nesse grupo de renda era 56,3%.

O percentual de famílias sem condições de pagar suas contas em atraso, apresentou comportamento semelhante entre os grupos pesquisados, apenas na comparação mensal. Na faixa de renda >10 SM, o indicador alcançou 3,7% em out/19, ante 3,6% em set/19 e 3,7% em out/18. Para o grupo de renda <10 SM, o percentual de famílias sem condições de quitar seus débitos passou de 11,3% em set/19 para 11,8% em out/19, e registrou alta de 0,3 p.p. ante out/18.

A proporção das famílias muito endividadas cresceu entre set/19 e o mês seguinte - de 13,8% para 14,0% do total. Na comparação anual, houve alta de 1,1 p.p. Já na comparação entre out/18 e out/19, a parcela mais ou menos endividada caiu de 23,5% para 23%, e a parcela pouco endividada subiu de 24,4% para 27,7%.

Já o número de famílias com contas em atraso aumentou em out/19, na comparação mensal, passando de 24,5% para 24,9% do total. Houve alta do percentual de famílias inadimplentes na comparação anual, quando registrou 23,5%. O percentual de famílias sem condições de pagar suas contas em atraso e permaneceram inadimplentes cresceu 10,1% em out/19 ante o mês anterior (9,6%). O indicador chegou a 9,9% em out/18.

Mais uma vez o cartão de crédito continua na liderança como o principal tipo de dívida das famílias, com 78,9%. É seguido por carnê de loja (15,5%), financiamento de carro (9,5%), financiamento de casa (8,7%), crédito pessoal (8,2%), cheque especial (6,5%), crédito consignado (6%), cheque pré-datado (1,2%) e outras dívidas (2,3%). Nas famílias com renda <10 SM, o cartão de crédito atingiu 79,1% de endividamento, seguido por carnê de loja (16,5%), crédito pessoal (7,9%) e financiamento de carro (7,8%). Já nas famílias com renda >10 SM, o cartão de crédito atingiu 78%, seguido por financiamento de carro (17,7%) e financiamento de casa (17,4%). Ver gráficos.

Portanto, o endividamento caiu em out/19, após nove mensais consecutivas de alta, indicando desaceleração da procura por empréstimos e financiamentos, enquanto na comparação anual, houve elevação. Apesar da queda do endividamento em relação ao mês anterior, o percentual de famílias muito endividadas aumentou nas duas bases de comparação, assim como a parcela média da renda comprometida com o pagamento de empréstimos e financiamentos. A persistente preferência das famílias pelo endividamento com cartão de crédito indica desconhecimento das ferramentas de educação financeira.

¹/ Mentor e Coach Financeiro, especializado em educação financeira, finanças pessoais, gestão e desenvolvimento de pessoas. Educador e planejador financeiro há mais de 25 anos. É palestrante de temas ligados à educação financeira, finanças pessoais, inteligência financeira, educação corporativa e liderança, além de ministrar treinamentos e workshops nessas áreas. É Master Practitioner em PNL. Economista com mestrado e doutorado em economia, é também bacharel em direito. Tem se dedicado ao estudo do dinheiro nas últimas três décadas. Foi professor universitário durante vinte e três anos e servidor do Banco Central por 36 anos. Visite o site www.ravecofinancas.com e o instagram @ravregisvarao.